Quem viver "Lerá" !

Textos e pensamentos elaborados para que os leitores possam observar e absorver o poder das palavras e sentimentos!



Aqui está escuro, estou encharcado em suor e exalando desespero, desabei no sono noite passada como se estivesse caindo em um precipício, cada vez mais escuro em uma ruína sem fim, com a expectativa de chegar logo ao chão, me fazer em pedaços e acabar de vez com essa aflição que traga minhas vísceras. Em meio a queda, a falta de ar ceifa a consciência e não sei distinguir o real dos pesadelos que venho apresentando, neles vago pela penumbra húmida, pela escuridão sem rumo e sem sentido, sem ver, sem sentir, sem ouvir nada, não sei onde estou, não entendo o que está acontecendo, ate que sou surpreendido por um calor absolutamente violento, que queima minha pele deixando expostos músculos e entranhas, o silêncio é quebrado por gritos agonizantes, clamores e dores, o aroma do apodrecimento corrompe e domina o ambiente, luzes, vermelhas, amarelas entremeadas, camuflam o cão fúnebre de três cabeças, que guarda a porta de saída desse desassossego em que me encontro, paro um momento para assimilar toda situação em meio tanto caos, percebo que tudo que fiz e causei de mal está sendo cobrado e pago com minha carne, alma e sanidade, relembro das dores que causei, das infâmias que deferi, das profanações que mencionei, vejo almas penando com angústia, ódio, incertezas e tristezas, aqui nada de bom habita, só há treva e pesar. O tártaro tem como seus alicerces os medos e os erros dos seus habitantes involuntários, mesmo sofrendo sinto que tudo que estou passando aqui, não seja suficiente para secar os oceanos de lágrimas que eu fiz derramar mundo à cima.

A mágoa e o arrependimento que brotam dos meus olhos, gritam as dores que fazem morada em meu peito, minha alma já quase extinguida segura o tênue fio de vida que ainda tenho, meu rosto calejado pela hipocondria e impaciência, me agrega mais dez anos, levo nas costas uma tonelada de lágrimas, perdas e pedras, em meu bolso... Em meu bolso tenho apenas um pequeno fardo com meus sonhos. Já chorei, já fiz chorar, agora estou em meio as rochas incandescentes e gritos abafados, arcando com meus atos, em minha Shoah.

Nenhuma dor física pode aplacar minha angústia mental, não importa quantos trabalhos eu exerça, quanto heroísmo eu consiga demonstrar, quanto força física tenho, porque dentro de mim a paz não habita, não há satisfação, sou um prisioneiro de minha própria culpa!

Minha tenacidade, minha astúcia são postos a prova aqui nesse lugar atroz, me sinto no limite, em um abismo de morte. Encontro-me entre realidade e uma efialta, para ser punido pelos meus erros e agouros, também para tentar destruir o que um dia já me desmembrou, meus pavores e anseios, porem esse é só metade do meu desafio, a outra metade é descobrir como fazer isso. Mas para tal circunstância terei a eternidade para descobrir.

Levo comigo setas embebidas na peçonha de inimigos nocivos que já enfrentei e derrotei, dentro de mim todo mal que causei e que já me foi causado converteu-se num dragão de cem cabeças, alimentado por depressões, orgulhos e egos, que ataca com cólera devorando com voracidade minhas expectativas e bons pensamentos, sinto um vazio por dentro como se presente aqui eu me constituíra apenas de um amontoado de prantos e ossos. Dessa forma sem perceber vagueio por anos no mundo de Hades, sem sorte perambulo por essa devastação com as mãos banhadas em sangue (o sangue e a marca física da culpa), me sinto odioso por estar encarcerado neste lugar cadavérico, mas quando minha ira cega se abranda, ela é substituída por um remorso intenso, uma angústia terrível, que me atormentará eternamente, pois me lembro que se aqui estou é porque deslustrei os sentimentos, confiança de alguém, cometi inúmeras faltas e mereço estar onde estou. Como os antigos descreviam essa é a culpa de sangue.

Dai em diante eu tento livrar-me da mancha de culpa por estes atos terríveis que acabam se transformando no eixo da minha eterna lástima, agora só me resta purgar meus crimes, mas estou perdido, desorientado. Somente uma penitência terrível pode absolver meus pecados, para purificar minhas mãos, minha alma, purificar do delito lamentável que cometi., por isso emito brados de perturbações e infortúnios pelo tártaro inteiro.

Cumprindo minha pena, em meio esse mar de lava ardente, preciso ter força física, obstinação mental e resistência incansável, para resistir e não padecer às mortificações estipuladas, sou passível de pena e de admiração, sou a prova de que o mal que você cria, um dia te consumirá, te inundará de sofrimento e um dia quem sabe terás a redenção. Aqui não há só o ardor que castiga e consome carnes e os espectros, há também todos os extremos, para que os errantes sejam alvejados em todos aspectos, já caminhei por todas as veredas dessa prisão inalterável. Rocha e gelo, vento e neve, fogo e sangue, vagando por uma terra de neguem, onde o tempo é implacável, um território inóspito, infinito e ao mesmo tempo minguado e caustrofóbico.

Não é um simples pesadelo, estou mesmo pagando em vida por todos pecados que pratiquei, por todo rancor que produzi. O meu Hades é aqui mesmo em terra, em penitência viva, para que a dor seja vívida e real, em pele, carne, ossos e alma. Olhar sem poder tocar, desejar sem poder saborear viver e não poder sorrir.


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São Paulo, São Paulo - SP, Brazil
Busco palavras esquecidas... Guardadas nas brumas do tempo, estrada onde o homem cotidiano teme caminhar, são raros os que nos tempos de hoje se aventuram a romper a espessa névoa, pisar em solo movediço e mostrar que a verdadeira força é proveniente do músculo mais valioso e também mais vulnerável... O coração!